Você conhece a teoria dos “não-consumidores”? Ela diz que em todo mercado sempre há pessoas que não consomem devido a um motivo, problema ou dor. Foi esse conceito que impulsionou a ideia para a criação da Timbrasom, empresa incubada virtual da Adetec, com produção de um aplicativo que traduz sons em vibrações para que pessoas surdas possam apreciar músicas.
Em 2020, Rafael Zinni Lopes, então estudante de Engenharia de Alimentos da USP, decidiu criar sua própria oportunidade no mercado após um estágio na área de programação. Ao conhecer a teoria dos “não-consumidores” e participar de um desafio de empreendedorismo, aproveitou sua chance. “Eu sou um cara apaixonado por inovações capazes mudar a vida das pessoas. Fiquei tão embasbacado com o conceito que eu queria aplicar o mais rápido possível e a oportunidade veio em novembro de 2020 no Hackathon Sony Music Brasil. Atingimos o 3º lugar nessa competição com o projeto de nome Feel The Music”, afirma.
O desafio era justamente integrar mais pessoas ao mundo da música, foi aí que Rafael teve a grande ideia. "Quem não consome o mundo da música? Os surdos! Como resolver esse problema? Não sei. Então fui pesquisar”, conta. Rafael conheceu a história da cantora Mandy Harvey, que perdeu a audição aos 18 anos enquanto cursava graduação em Música. Após 10 anos inativa, a cantora reapareceu em reality show musical com um método criado por ela para ouvir o que cantava: sentindo as vibrações no palco. “Por que essa sensação não poderia estar nas mãos de qualquer pessoa?”. Essa foi a questão que fez nascer a Timbrasom, que teve o primeiro rascunho naquele evento, com um gráfico em linhas vermelhas que indicavam o ritmo.
No mesmo ano, Rafael participou do Mega Hack 5.0 da Shawee, onde conheceu Victor Dias de Oliveira, que se tornou seu melhor amigo. Naquele evento, a equipe precisou vencer adversidades externas: um dos desenvolvedores desistiu do Hackathon sem avisar. “Faltavam 2 horas para o prazo final de envio e o Victor, em vez de desistir também, tomou a iniciativa de fazer o trabalho mesmo que não desse tempo, e isso me marcou”, relata.
O protótipo pensado por Rafael consistia em um sistema offline, em que o usuário baixa a música e a coloca dentro do aplicativo para ter a tradução. Mas, Vitor aperfeiçoou a ferramenta, após participaram do Hackathon da Ambev. “Ele conseguiu fazer uma tradução simultânea (ao vivo), que permite ligar o sistema do aplicativo da Timbrasom, fechar o app e ir curtir uma música no YouTube, por exemplo, sem que a música esteja no app. Isso é muito melhor para o nosso público, porque muitos passos geram atritos e dificuldade na criação do hábito de curtir uma música”, declara.
O talento e dedicação de Victor fez com que Rafael o convidasse para ser cofundador da empresa. “Ele era um menino que programava usando o celular porque não tinha um notebook decente para isso. Notei nele uma mistura de potencial técnico com empatia e queria ser esse trampolim para ele também alcançar patamares cada vez maiores”, conta.
O idealizador da Timbrasom afirma que não haveria o empreendimento sem o Victor, mas que ambos não entenderiam 100% o cliente não fosse pelo terceiro sócio, o Ricardo Teruaki Fujikawa, que depois precisou deixar a sociedade, mas continua auxiliando nos trabalhos. “Ele havia feito parte da Enactus Mauá e é uma pessoa ativista das causas sociais dos surdos por ele mesmo não escutar nada. Foi importante ter alguém com contato forte com a comunidade, ele ajudou a testar todas as funções do aplicativo e trouxe os primeiros testadores para o MVP (produto viável mínimo)”, aponta – MVP é a versão simplificada de um produto que pode ser lançada com uma quantidade mínima de esforço e desenvolvimento.
Como funciona o app da Timbrasom?
Basta instalar o aplicativo, clicar no botão “Timbrar” e se divertir. Ao deixar esse sistema de tradução dos sons para vibrações ativo no app, o usuário pode migrar para o YouTube, navegadores como o Google Chrome, streamings de música ou filmes como Deezer ou Disney+, jogos como LoL, que o aplicativo fará a tradução simultânea. Detalhe: o volume do celular pode ficar desligado que a vibração ocorre normalmente, isso ajuda a curtir uma música sem atrapalhar outras pessoas no ambiente. Além disso, o usuário pode estar a 30 centímetros de alguém e essa pessoa nem vai notar que o celular está vibrando.
“Nosso sonho foi criar um aplicativo para Android que pudesse transformar a vida das pessoas surdas, para que elas pudessem curtir momentos como sentir uma música no meio do metrô sem atrapalhar ninguém. Criamos uma ferramenta simples e de fácil de uso, não existe outro sistema que traduz sons em vibrações da maneira como a Timbrasom faz. A maioria usa pulseiras, coletes ou utensílios que as pessoas precisam comprar para depois conectar num computador, mexer em um software e somente assim obter a tradução. A Timbrasom simplificou e tornou acessível”, declara Rafael.
Os primeiros testadores aprovaram o app também para assistir a séries e animes, já que nos momentos de clímax a vibração se intensifica causando ainda mais a sensação de imersão na história. “Foi começando por eles que esse sonho está mais próximo de se realizar, foi ouvindo os usuários que decidimos montar um sistema de assinatura que, por 10 reais por mês, já são o suficiente para escalar esse sonho para todo o Brasil”, aponta.
Crescimento profissionalizado
Em 2022, a empresa foi cadastrada na base do governo e os empreendedores entraram para a Incubadora Virtual da Adetec após conhecerem o trabalho da instituição durante participação na final do programa InovaCPS. “Em uma conversa com os mentores, eu descobri o Ricardo Bortoli, que é super engajado com a causa social dos surdos. Eu vou para lugares com pessoas que me inspiram, então entrar na Adetec foi um processo natural”, relata.
Como incubada, a Timbrasom recebe consultorias especializadas e Rafael aponta que tem sido muito importante para a evolução saudável da empresa. “O aprendizado é espetacular, nos apontam minúcias que não tínhamos olhado como o registro da marca, marketing de embaixadores (como conversar com eles, como mapear, com quem falar), o que está desacelerando o processo da Startup, ajudou bastante a abrir os olhos”, declara.
A Timbrasom exemplifica bastante o conceito da Incubadora Virtual de atender empreendedores de diversas partes do país, afinal, cada um dos sócios reside em uma cidade diferente: Rafael está em Porto Ferreira, Victor em São Sebastião e Ricardo em São Paulo. E a Adetec em Lins.
Timbrasom: Feel the Music
Acesse e confira: timbrasom.com.br
Acompanhe no Instagram